domingo, 14 de abril de 2013

Fiz um conto pra vc...

Ontem, tento dormir. Algo me desperta: a escrita, para continuar o que comecei há cerca de uns dois dias atrás (ou mais?)... O que sei é que de início, só anotei a ideia central que tive, a partir de uma matéria do noticiário.  E deixei pra lá, como faço com muitas ideias. Então, a minha gata, a Pantufa, roeu a ponta das três folhas que deixei destinadas para continuar a escrever, um dia, talvez, este texto que ficou intacto, porém marcado pelas mordidas da minha gata, enquanto eu sentia  saudades  diante da perda da minha outra gata, a Cota.
Gatas...a me falar!Fazem todo o sentido...
São 3:30 da madrugada, escrevo enquanto escuto o barulho da chuva lá fora (um barulho bom). Acordo hoje, domingo, dia 14/4/13 e continuo a reler e escrever o texto, interrompido pelo sono, desta vez.
É um conto: autobiográfico, verossimilhante...se é bom ou ruim, não sei. Insisto, ainda, em não fazer qualquer alarde do que escrevo, enquanto me acostumo a minha dualidade: a necessidade de escrever e minha resistência em escrever,ou, meu desejo de escrever versus meu desestímulo e falta de disciplina, diante desse terreno baldio das palavras e muitas ideias.
A história: uma mulher, em sua casa, vendo TV, ouve a notícia de que foi encontrado um corpo não identificado. Toda a descrição dada bate com suas características, sexo, idade aproximada e, inclusive, as três tatuagens, nos mesmos lugares, que carrega em seu corpo. Então, ela diz: “ – Sou eu!Eu estou morta!” E passa a acreditar nisto...O desenrolar da história guardo “ na gaveta”.Mas, como exercício pessoal, posto aqui parte do conto.

Título: No noticiário
                                       Epígrafe: baldio é meu terreno e meu alarde (Legião Urbana)


Ela escutava a TV. Sentada no sofá, havia interrompido algo que fazia em seu computador e que a estava deixando exausta.
Ela mora só. Antes com ela, uma gata, sua única e verdadeira amiga. Agora só a solidão da perda, a necessidade de superar, já que sua gata morreu a cerca de um mês, e a raiva muda por não entender o porquê um ser amado se vai, ela que nunca aceitara a impossibilidade de fazer algo diante da morte, esta sentença que não dialoga conosco. Se fosse perguntada, ali,  sentada, inerte, olhando para um aparelho de TV e pensando como aceitar mais esta perda, ela que já passara por outras:  sua avó, seu pai, um tio querido,algumas pessoas que admirava, amigos, diferentes perdas, o que ela, de fato,  desejaria diante da mais recente, ela diria que gostaria que a vida fosse como antes. Com o amor que tinha.
Dizem que os gatos escolhem as pessoas e não o contrário. Entre elas havia uma combinação, ambas aceitaram, olhando-se, olhos humanos nos olhos felinos, uma a outra, a aderir    ao amor incondicional. Esse tipo de escolha que parece ser oferecida aos seres num instante, que dura um piscar de olhos, ou um olhar, e, se os dois seres aceitam, há amor envolvido.
Foi o que aconteceu ente ela e sua amiga gata.
Mas ali, diante da TV , ela sabia, não tinha esta possibilidade de escolha. E sentia sua vida de agora diferente, mais solitária, vazia. Passaria um dia; a dor amenizaria, um dia. O esquecimento ajudando a memória a não adoecer. E foi vendo e ouvindo o noticiário com maior atenção que uma notícia, em particular, chamou-lhe a atenção: uma mulher havia sido encontrada morta, num terreno baldio. De início a comoção, mas nenhuma surpresa, afinal de contas, tantas mulheres assassinadas por dia no país que é o seu...O que despertou sua atenção foi quando o repórter descreveu as características da mulher, ainda não identificada: a idade aproximada, o tipo físico mediano, a cor da pele, dos cabelos e, mais, as três tatuagens que a tal mulher carregava em seu corpo: uma borboleta no pé esquerdo, uma frase no antebraço esquerdo e flores no direito.
Ela acabou de ouvir a descrição estarrecida e ficou ainda mais, com o pensamento que lhe veio à cabeça: – Esta mulher sou eu!Eu estou morta!
Uma espécie de pânico poderia ter invadido o seu interior, como já ocorrera em certas situações, mas nada se assemelhava a esta situação, ou melhor, a esta constatação.
Uma calma, como uma rendição, tomou-a, e ela deu um longo suspiro. O que faria, a partir de agora, então? A partir desta descoberta?

Continua...

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